sábado, 9 de abril de 2011

Desprezo - Capítulo 8 - À sós

AVISO AOS NAVEGANTES:
Aqui está sendo postada uma fanfic de Harry Potter, com ship Draco/Harry.
Não gosta? Não leia.
Gosta? Seja bem vindo e, por favor, comente!
Sim, essa é a mesma fic que estava sendo postada no fanfiction.net.
Saí de lá, pois o site não me deixava adicionar novos capítulos nem escrever uma nova história, mesmo depois de fazer outro profile e enviar inúmeros emails pedindo ajuda ao suporte. Espero ver todos os meus leitores do outro site, aqui!
Sejam todos muito bem vindos!
A quem ainda não leu, os capítulos se encontram organizados no Arquivo, por número e nome. Estejam à vontade para dar opiniões.
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Capítulo Oito! Sei que demorei mais a postar esse cap, mas vocês verão pelo tamanho por que demorei tanto. Foi também mais complexo do que os outros e ainda estou insegura sobre ele, mas já o reescrevi várias vezes e se não postá-lo de uma vez não postarei mais. Afinal, é a primeira real e extensa dinâmica Harry/Draco, e espero ter feito um trabalho decente. Fiz o melhor que pude para tentar passar os aspectos dessa relação que é tão multifacetada. Se gostarem me deixem comentários e eu ficarei feliz. Espero que se divirtam e riam bastante, e também se envolvam. Espero que não tenha ficado artificial, contido ou extenso demais. Espero opiniões. Semana que vem estarei de volta com cap 9. Qualquer dúvida, perguntem-me.


Resposta ao último review deixado em fanfiction.net:

Mischa Malfoy-Potter: Olá, querida, seja muito bem-vinda! Fico grata pelos elogios. Até eu tenho pena do Draco enquanto escrevo xD, mas é assim mesmo, sem um pouquinho de dor, as conquistas da vida não valem a pena. 

Quanto ao que me perguntou, *risos*, eu não posso responder inteiramente, pois faz parte da história, mas sim, ele será ativo. 

Isso é engraçado, pois eu vejo exatamente o oposto, Draco tão orgulhoso, tão cheio de si, tão líder de tudo, ao menos a visão que eu faço dele e que coloco na fic é de um homem assim, impetuoso e forte, e portanto não cogitaria em sua mente em primeiro lugar a possibilidade de se submeter a Harry. Mas veremos como as coisas se desenrolam, sei que você acabará vendo o lado dele ;D

Tenha um ótimo final de semana!

 Boa leitura a todos vocês! 
Beijos mil e bom final de semana: 
Miss Writer.



- Capítulo 8 -
À sós.

Citação do capítulo:
“As conquistas são fáceis de fazer, porque as fazemos com todas as nossas forças; são difíceis de conservar, porque as defendemos só com uma parte das nossas forças.”
    
- Autor: Montesquieu , Baron de -

Não chegou na hora. Não. Sabia que o moreno chegava na hora certa e não queria chegar antes, queria lhe dar tempo para pensar. Fazê-lo esperar, determinar quem estava no comando ali. Afinal, o outro não poderia pensar que estava cedendo-lhe um favor. Draco precisava reverter a situação, torná-la ao seu favor, fazer com que Potter se perguntasse por que estava ali, se desconcertasse, se desarmasse. Se ele duvidou que o outro iria? Talvez uma vez. Um segundo antes de avistá-lo junto ao portão de ferro negro.
O griffinório estava exatamente como o queria. Trazia uma expressão ansiosa que se tornou imediatamente constrangida ao avistar o loiro que chegava. Draco segurou uma careta de desagrado por um momento. Ele tinha levado o cachorro. O enorme animal negro, de cabeça larga e grandes patas fofas, não aguardava pacientemente junto ao dono, ele caminhava de um lado ao outro, tanto quanto a coleira lhe permitia, fuçando as folhas no chão e fazendo todo tipo de espalhafato. Cachorros. Argh. Sem mencionar a clara semelhança doentia com a forma animaga de seu primo de segundo grau¹. Testa rachada.
Não obstante, seu desagrado foi esquecido enquanto analisava o moreno à sua frente. Com uma sensação de extrema satisfação em poder fazê-lo, escorregou os olhos por cada centímetro daquele corpo, sem pressa. Olhos verdes que o fitavam com intrigues, o maxilar marcado avermelhado pela barba recém-feita, a curva do pescoço, uma entrevisão do peitoral liso pela gola em “v” do suéter dourado outono com um leão vermelho bordado junto ao coração. As fibras da lã fina desenhavam os músculos o suficiente para fazer sua pele formigar e os shorts negros de tecido frio prenunciavam os traços da coxa.
Quando tornou a encontrar os orbes do outro, este o olhava com ainda mais intrigues, corado e claramente desconfortável, enquanto que o loiro continuava impassível como se o tivesse analisado com indiferença.
“Potter”
“Você está atrasado”
Declarou o moreno de forma defensiva. Draco arqueou a sobrancelha e baixou os olhos para o imenso animal que procurava se aproximar dele.
“Você trouxe um cachorro”
Rebateu no mesmo tom insolente, porém com muito mais prática e segurança. Potter revirou os olhos enquanto Draco acrescentava:
“Mantenha-o longe de mim.”
“É... Boa tarde pra você também.”
Resmungou o outro se virando para entrarem no parque.
O sonserino não se lembrava há quanto tempo não se divertia tanto. A cara do moreno era impagável, uma mistura de irritação e, contudo, curiosidade. Sorrindo, ele se encaminhou para o outro e murmurou enquanto passava, sem olhá-lo.
“Boa tarde, Harry.”
Draco adentrou o parque e pareceu demorar para perceber que o outro não o seguia, então fez uma face surpresa e ergueu as sobrancelhas para o moreno, olhando-o.
“Vai ficar aí parado, Potter? Você tem uma visão estranha sobre sair para correr.”
Debochou, e por muito pouco não riu ao que o outro bufava e passava por ele, já correndo pelo caminho de pedras que serpeava por entre as árvores. Com um sorriso, o seguiu e logo estava ao seu lado.
Diziam que aquele lugar era romântico. Draco não podia dar nenhuma opinião quanto a isso. Porém que era interessante, era. As imensas árvores frondosas se enredavam acima deles, filtrando a luz, escondendo-os do mundo ao abafar o som tanto do tráfego lá fora como de quaisquer outras pessoas que estivessem no vasto parque. Vez ou outra no caminho se abriam pequenas clareiras de um lado ou de outro, com fontes, bacias de pedra cheias d’água ou canteiros centrais, ao redor dos quais se aconchegavam dois ou três bancos.
Naquela solidão ilusória, Draco se viu puxando o griffinório para cada recanto daquele, arrancando aquele suéter que parecia ser a única coisa que cobria seu torso, prensando-o contra uma árvore, um banco, ou até no chão coalhado de folhas. Não importava muito onde. Ouvir seus gemidos sendo abafados pelo túnel verde... Tornou os olhos para o outro sem se importar em disfarçar, queria aguçar cada vez mais a curiosidade dele, fazê-lo perder o sono à noite se questionando o que queriam dizer suas atitudes. Soltando o ar com certa força, observou uma gota de suor que escorria dos cabelos negros por todo o pescoço moreno até perder-se na gola da blusa. Teve de passar a língua pela boca seca e voltou a olhar para frente conseguindo ainda ver um segundo antes, pelo canto dos olhos, orbes verdes confusos fitando-o de repente.
A sombra de um sorriso perpassou os lábios do loiro enquanto pensava que gostava muito daquele parque.
Completamente sós... Sentiu o corpo formigar novamente antes de ouvir a respiração pesada e barulhenta que ecoava pelo túnel verde e úmido. É claro, não fosse pelo estúpido cachorro. Ele atrapalhava tudo que... Óbvio. Revirou os olhos para si mesmo com irritação. Como não percebera isso antes? Potter tinha levado aquele bicho como um salva-vidas, algo que não permitisse que ambos ficassem totalmente a sós.
Do que o outro tinha medo? Que Draco o acusasse, que tirasse satisfações, que o confrontasse? E para quê? Depois de todos aqueles anos nunca o tinha repreendido por ter virado as costas para ele, por ter jogado sua amizade fora outra vez. Não. Ele era um Malfoy, e Potter devia saber melhor. Uma Malfoy não implorava nada à ninguém.
Já corriam quase há vinte minutos em silêncio. E quem é que precisava de palavras quando volta e meia recebia aquele olhar ansioso? Quando orbes verdes escapavam dos seus, fazendo a face morena corar profundamente ao ser pego fitando-o? Ah. Sim. O outro estava começando a ter exatamente os pensamentos que quisera que tivesse. Ele sabia o quanto era atraente, o quanto sua forma parecia impecável mesmo enquanto corriam, e não precisava de espelho para afirmá-lo. Ele podia levar Potter à desejá-lo. Nunca duvidara disso. Ele duvidara de meios, de oportunidades, mas nunca se indagara se poderia fazer isso, se seria capaz. Assim como nunca duvidou que poderia levar aquela ruiva para  a cama, quando pensou que finalmente ia entender por que... Não. Disso não duvidava.
“Potter, pode me dar um pouco da sua água?”
“O que...?”
Draco engoliu o riso ao observar a feição do outro que parecia pego de surpresa com a repentina quebra do silêncio.
“Água...”
Repetiu, fazendo um aceno indicativo com a cabeça para a garrafa presa à cintura do outro.
“Água... Ah, claro!”
O moreno se atrapalhou enquanto tirava a garrafa do pequeno elástico e a entregava ao outro como se lhe entregasse algo muito valioso e frágil. Sem desacelerar, o loiro abriu a garrafa e deliberadamente derramou grandes goles na boca, deitando a cabeça para trás, expondo o pescoço alvo. Saciado, ele lambeu os lábios rosados e úmidos, e, ignorando a mão estendida do outro para receber o recipiente, inclinou a cabeça loura para frente e derramou água sobre os cabelos e a nuca, ofegando um pouco pela água fria e passando os dedos pelos fios escurecidos. Retirou então o suéter prata que usava e passou-o no rosto, jogando-o sobre o ombro depois, deixando o torso nu. Só então virou-se para o outro de novo, sorrindo-lhe seu melhor sorriso e vendo os olhos verdes desviarem, o rosto ficando rubro, deliciosamente rubro. Adorava envergonhá-lo, embaraçá-lo... Ah, era bom demais!
“Obrigado, Potter. Estava com sede.”
Declarou afinal, entregando de volta a garrafa para o outro. Assim que prendeu o objeto em seu lugar, Harry retomou o passo e começou a correr duas vezes mais rápido ganhando espaço facilmente e deixando para trás um Draco completamente divertido que não pôde fazer outra coisa a não ser rir e segui-lo, muito satisfeito consigo mesmo.
O jovem bruxo executivo sabia que o outro estaria agora tendo todas as dúvidas mais patéticas, como se ele seria gay, se Draco estaria dando em cima dele e coisas parecidas. Puift. Griffinórios. Draco nunca se achara gay. Apenas seu corpo tinha necessidades que ele não compreendia, mas que desistira de tentar compreender. Sim, ele queria transar com Potter. Não, isso não significava que ele ia sair por aí cantando “I will survive”² e assoviando para outros homens. Porém é claro que Potter tinha que fazer um drama por uma coisa tão banal como tesão. Às vezes tinha certeza de que Potter era uma brunette³ disfarçada. Isso explicaria muita coisa. Aquele pudor todo, aquela cara enfurnada em dúvidas, confundir um pau duro com todos os seus sentimentos. Ah, sim, ele quase podia ouvir o eco patético ‘Será que isso significa que eu estou traindo a Ginny? Será que eu não sou mais homem...? Será que...’ Argh! Até o motivo do loiro se sentir atraído por aquele auror magricela podia ser explicado por ele ser na verdade uma brunette escondida. Bem... Confessou ao dar uma boa olhada, pouco ligando para os pudores virginais do outro, não era mais tão magricela assim.
Finalmente Potter decidiu abrir a boca. Francamente. Como o chefe da seção de aurores podia ser assim tão inarticulado? Não culpava o ministro por tê-lo deixado sob observação quando conseguira o cargo há seis meses, sob o pretexto de “ser jovem demais”, por ser um palerma, isso sim!
“Então... Como as coisas vão com seu pai?”
O executivo arqueou a sobrancelha se indagando o que significava aquilo.
“O mesmo de sempre... Eu me mato de trabalhar, ele me critica... eu me mato mais um pouco, ele me despreza... É uma relação saudável.”
Destilou debochadamente, vendo duas sobrancelhas negras se fundirem pensativamente.
“Pensei que ele seria mais fácil depois de tudo, pensei que ficaria orgulhoso.” Corou subitamente desviando os olhos. “Am... Quer dizer... Tenho lido sobre suas conquistas no Profeta, pensei que se fosse meu filho, bem... Eu ficaria orgulhoso. E grato também.”
Por algum motivo, aquelas palavras gaguejadas e o olhar compreensivo que recebeu ao final, lhe aqueceram o peito de um jeito estranho, mas bom. Deu seu primeiro sorriso verdadeiro, que não era zombativo nem sarcástico ou irônico, apenas melancolicamente conformado. Não planejado.
“Ele fica.” Fitou o moreno rapidamente tornando a olhar o caminho. O ritmo de ambos reduzira muito, todavia não pareciam se importar ou mesmo perceber. “Ele faz aquela cara de insatisfação, mas eu sei que no fundo, ele fica orgulhoso. Nem todos precisam de grandes gestos piegas, Potter. Eu sei só de olhar pra ele.”
Harry sorriu, balançando a cabeça.
“São uma raça estranha. Vocês sonserinos.”
Draco riu baixo, arqueando a sobrancelha ao final.
“Posso dizer que pensamos o mesmo.”
Ganhou outro sorriso de volta e percebeu que ambos tinham parado de correr ou mesmo andar. E, ah. Aqueles lábios curvados estavam tão próximos. Aquele sorriso sumiu e ele lambeu os lábios como se tivesse a boca seca. O loiro acompanhou o movimento da língua com sofreguidão, e soltou o ar lentamente. Tanto tempo... Tanto tempo esperando. Com relutância se obrigou a erguer os olhos para o do outro. Eles estavam assustados. Não, não. ‘Não se assuste’ queria dizer, ‘Só um pouco mais, ah, só um pouco...’
Ouviu o estalar um segundo antes do grito e dos latidos.
“Snuffles!!”
Cachorro. Maldito.
O animal que estivera o tempo todo puxando a coleira com força, desejando avançar, tinha conseguido romper o couro e agora corria livremente pelo caminho.
E o outro se foi.
Draco soltou o ar que estivera segurando antes, quando mal ousara respirar, com força, massageando a testa com raiva. Ele estava tão perto!
Inferno!
Irritado além dos limites, desejando que o animal caísse num buraco e sumisse da face da Terra, se pôs a caminho, correndo atrás do moreno que perseguia o animal que já tinha desparecido na curva. Conseguiu alcançá-lo alguns metros depois e segurou seu pulso com força fazendo-o parar. O outro se debateu, mas afinal se virou para olhá-lo, os olhos aflitos, a expressão tão angustiada que o loiro franziu a testa. Tudo aquilo por um cachorro? Ele era um auror afinal. Não devia manter a cabeça fria? Por que perder um cachorro botava mais medo no griffinório do que enfrentar um comensal? Ou mesmo ir correr um com ex-comensal... Pensou com amargor. Arquejando pela corrida rápida e se apoiando com a mão livre no joelho, a única coisa que conseguiu dizer foi:
“SNUFFLES?!*”
Primeiro Harry franziu a testa com confusão, depois ficou irritado e puxou o pulso com força conseguindo se soltar.
“Que importa o nome dele?!? O que importa é que ele fugiu!! E agora... E agora.... Ele... Eu... Eu o perdi.” Exclamou, se virando para onde o cachorro tinha ido. “Eu... Tenho que ir atrás dele, tenho que pegá-lo, me solta! Por Merlim, Malfoy!”  xingou, ao ver que o outro o segurava outra vez.
O loiro revirou os olhos pra ele.
“Potter, pára. Pelo amor de Merlim! Pare de ser banana. Vem. Senta aqui.”
Puxou-o indicando uma grande árvore que se erguia na beira do caminho. Potter parecia à beira de um colapso.
“Sentar!? Sentar!? Puta que pariu, Malfoy!! Me solta!! Eu não vou deixá-lo escapar pra ficar ouvindo suas gracinhas.”
“HARRY!!”
Exclamou exasperado, chacoalhando-o pelos ombros. O outro tinha a face corada de raiva, os olhos brilhavam com ansiedade e a respiração era forte e irritada. Mas tudo sumiu quando os olhos verdes se arregalaram para ele com o uso súbito de seu primeiro nome.
“Por Morgana. Pare e pense homem. O parque é cercado...”
“O parque é cercado...” repetiu com súbito alívio, respirando fundo.
“Yeah. E a única saída é por aqui. Ou seja, o melhor é que nos sentemos e esperemos que ele volte. Parece que você nunca caçou nada na vida. Não se corre atrás de alguém que está fugindo.” Desdenhou o loiro enquanto se sentava, recostando-se na árvore relaxadamente, usando o suéter de encosto e esticando as pernas cansadas. Ele teve que conter um sorriso quando viu o olhar do moreno cair no seu torso nu esticado daquela forma, displicente. E após alguma hesitação, ele se sentou ao lado do sonserino enquanto este continuava. “Não se corre atrás de alguém que está fugindo, Potter” e pronunciou o sobrenome com ainda mais desgosto depois de ter usado o primeiro nome, como se para se afirmar, dando uma olhada de canto para o griffinório que se esticava ao seu lado agora, parecendo ainda ansioso. “Isso só vai entusiasmá-lo a correr ainda mais. Mas quando vir que não há ninguém atrás dele, vai acabar voltando. É a única vantagem que vejo nos cães, são bichos curiosos. Ele vai voltar.” Soltou o ar e se acomodou mais, fechando os olhos, aguardando.
Levou três minutos inteiros para que o garoto falasse, e Draco não o pressionou.
“Malfoy...”
“Fala.”
Concedeu sem sequer abrir os olhos. Queria dar ao outro oportunidade para refletir sobre as coisas que esperava estar fazendo-o sentir, e, se quisesse, dar uma boa olhada no loiro sem ser visto.
“Você gosta do que faz?”
O sonserino franziu a testa, virando para olhá-lo um pouco antes de responder, fitando o céu.
“Que tipo de pergunta é essa? Sim... Eu gosto. Por que não gostaria? Sabe como é... Posso mandar em várias pessoas, tenho um império para comandar... Esse tipo de coisa que você deve pensar que eu adoro.”
“Fale sério por uma vez, Malfoy. Só fiquei curioso.”
A voz do moreno soava não entediada, porém realmente curiosa, e isso fez o loiro sorrir por um momento.
“Claro que gosto, Potter. Eu não sou homem de fazer o que não gosto. Se não gostasse estaria fazendo outra coisa. Mas por que o interrogatório agora? Você não gosta do que faz?”
“Gosto... Claro que gosto. Me faz sentir útil. Gosto de fazer as pessoas se sentirem seguras, se você tivesse idéia de quão sozinhas elas se sentem, tem tantas pessoas que pedem ajuda para nós por que não tem ninguém mais a quem pedir, por que perderam seus filhos e entes queridos na guerra e agora estão sós. Teoricamente não é nosso trabalho ajudar, mas... Eu instruo meus ordenados a fazerem todo o possível, se não for atrapalhar a escala de trabalho, é importante. Sei lá.” Embaraçou-se um pouco. “Eu gostaria que alguém fizesse isso por mim. Acho que não... Conseguiria trabalhar em nenhuma outra coisa. Eu não me imagino num escritório como você, acho que enlouqueceria. Além disso, mesmo anos depois da guerra parece que ainda há tanto a fazer. Parece que os ex-seguidores de Tom Ridle nunca acabam.”
“Ah não ser que fosse se ver jogando quadribol.”
Replicou o loiro, sorrindo ao se virar pra ele, zombeteiro, tentando mudar o tom sério para que a conversa pendia. Os pensamentos de Harry o surpreenderam. Nunca pensou que ele visse a profissão dessa forma, não como cães de guarda do ministério, mas como um centro de ajuda. Perguntou-se quantos velhos bruxos não abusavam dessa boa vontade do moreno e se sua medida seria muito popular no ministério, ou se os aurores sentiriam seu orgulho ofendido. Além disso, ele não estava nem um pouco entusiasmado em se recordar de Lord Voldemort, quanto mais lembrar ao outro que ele próprio fora um dos que ele agora caçava todos os dias, como pragas invisíveis. Harry pareceu pensar sobre isso por algum tempo e seus olhos ficaram mais claros outra vez, com o desvio de assunto, então sorriu.
“Talvez. Não sei se eu gostaria de tornar quadribol uma obrigação... É algo tão bom pra mim que seria terrível se virasse simplesmente aborrecimento.” E pelo canto do olho, Malfoy viu-o sorrir de repente. “Sabe, apesar de um tanto palerma, você até que foi bom nos últimos jogos, você aprendeu um pouco...”
Draco revirou os olhos e tornou a fechá-los se acomodando na árvore.
“Te desafio a hora que quiser... Aposto cem galeões que eu pego o pomo antes de você. Deve estar todo enferrujado, e essa testa rachada e essa cegueira nunca ajudaram muito, não é mesmo?” E como o outro não respondesse, continuou provocando. “Eu por outro lado sempre tive uma visão perfeita e... ARGH!! POTTER!! Que merda...?”
Abriu os olhos ao sentir a lambida nojenta e áspera em seu rosto, molhada, cheia de baba, fazendo-o contorcer a face numa careta ao abrir os olhos um segundo antes de sentir o bafo quente em seu rosto.
“UGH! Bicho asqueroso. Eu disse que ele ia voltar, não disse? Anda, saí de perto de mim... Argh. POTTER!! Tira esse bicho de perto de mim! Inferno!”
Uma gargalhada gostosa e sonora ecoou sob as árvores enquanto o sonserino tentava de toda forma empurrar o enorme animal para longe, mas tudo que conseguia era fazer com que ele se desviasse e tornasse a lambê-lo, arfando e soltando pequenos latidos, abanando o rabo alegremente. Harry não parecia ter vontade alguma de se mover de seu lugar para tirar Snuffles de cima do loiro.
“Potter! Eu. Estou. Falando. Sério! Tira esse bicho, de perto, de mim. Ahhh!! Está bem, está bem! Inferno.” Cedeu afinal, acariciando o pelo negro e lustroso atrás da orelha do animal, fazendo uma careta enquanto olhava a cara enorme do bicho. “Por que é que você tem que ter um bafo tão podre? Seu dono inútil não escova seus dentes não? Por Merlim, Potter. Se vai comprar um cachorro ao menos trate direito do animal.” Resmungou, sem nem notar que Snuffles já deixara de importuná-lo e se deitara pacientemente ao seu lado, agora que conseguira o que queria, que eram os carinhos por todo o seu pescoço e dorso, que o loiro ia fazendo sem nem ao menos perceber, enquanto ainda reclamava, olhando para Harry como se o acusasse de ser desleixado com o cachorro. “Não sei se você sabe, mas ele não pode escovar os próprios dentes. Se você desse mais banhos nele, também ajudaria. Ninguém suporta um bicho fedido, Potter. É por causa de donos palermas como você, que os animais ganham má fama. Não é Padfoot**?”
Harry que estava se divertindo imensamente, afinal Snuffles não cheirava mal nem um pouco, já que tinha tomado banho naquele dia mesmo, e seu bafo não era tão ruim assim, visto que ele escovava o dentes do animal, fez uma careta ao final, franzindo a testa.
“Não o chame assim.”
“Foi você quem disse que o nome não importava. Além disso, a ceninha que fez e tudo o mais não nega. É até doentio, sabia disso? Você devia se tratar, sinceramente, Potter.”
O moreno revirou os olhos e se adiantou para recolocar a coleira com um feitiço reparador, reforçando-a em seguida e puxando o cachorro consigo para o seu lado, fazendo o loiro emburrar levemente ao descer a mão e encontrar apenas o ar ao seu lado. O auror o olhou e então sorriu de leve, não agüentando e caindo no riso. Draco soltou o ar, revirando os olhos e cruzando os braços.
“O que é agora, griffinório estúpido?”
“Malfoy...” E ele ria longamente enquanto passava a acariciar Snuffles por sua vez. “Você está todo babado.”
Com uma careta, ele passou a mão no rosto, então gemeu, se levantando de um salto.
“ARGH!! Cachorro nojento.”
Resmungou, caminhando até a fonte da clareira ao lado e começando a se lavar na água gelada de poço, resfolegando um pouco.
“Você é tão frescurento.”
Zombou o moreno e Malfoy fez nova careta, continuando a se lavar, a pele ficando vermelha pelo contraste de temperatura. Não era bem assim que ele tinha imaginado aquele dia. Sinceramente, não esperava terminar o dia todo babado de cachorro. Esperava estar coberto de coisas... Mais agradáveis. Resmungando consigo mesmo, mal percebeu que o outro estava ao seu lado, até que ele estendeu a mão, pegando o suéter dele para que não se molhasse e quando o loiro se virou, com a face interrogativa, Harry estendeu uma toalhinha que ele aceitou, secando o rosto enquanto ignorava o fato do outro estar ainda claramente segurando o riso. O que é que tinha de engraçado naquilo? Griffinório estúpido.
“Viu, não foi tão horrível assim.”
Revirou os olhos.
“Você fala isso por que não é você quem ficou coberto de baba... Se bem que... Você deve ficar, todo dia. Ugh. Cuide melhor do seu cachorro. Não pode ser um auror que preste se não consegue nem controlar o próprio cachorro.”
“E quem disse que eu não consigo?”
E o outro não agüentou, rindo outra vez, e deixando bem claro que podia ter tirado Snuffles de cima dele com apenas uma palavra, mas que não o fez apenas pela diversão de ver o loiro se debater com o animal. Fuzilando-o com os olhos, este último grunhiu, vestindo o suéter de novo e marchando para a entrada do parque outra vez. Para ele bastava de correria pelo dia. Nenhum clima podia ser recuperado depois de baba de cachorro. Ele precisava de um bom e longo banho, teria de continuar sua jogada em outra oportunidade. Só parou quando percebeu que o outro não o seguia, então se virou e o olhou, arqueando a sobrancelha.
“Você não vem, não? Vai ficar aí até ficar escuro e se perder junto com seu cachorro inútil?”
Harry revirou os olhos então, mas o seguiu, fazendo o caminho de quase meia hora de volta até a entrada do parque. Não falaram muito no caminho, mas não foi um silêncio pesado ou estranho. Foi até... Confortável. Então talvez tivesse sido mesmo estranho. Pois isso era definitivamente estranho, que ambos ficassem confortáveis na companhia um do outro. Parecia apenas não haver muito que falar. Implicaram-se um pouco sobre os antigos jogos de quadribol e Draco desleixou dele, dizendo que devia perder até para um garotinho de onze anos agora. Ao que Potter respondeu que pelo menos ele foi melhor do que um garoto de onze anos um dia, já Malfoy...
A conversa cessou porém antes de chegarem ao portão e quando o atravessaram, por um momento ficaram a se encarar, Draco analisando, Harry constrangido.
“Então... Você vai na reunião depois de amanhã?”
“Reunião...?”
O loiro franziu a testa, vendo o outro revirar os olhos.
“Hogwarts, cinco anos de formados... Reunião da turma toda das quatro casas...?”
“Ah... Isso. Não sei por que celebrar algo que...”
“Vão ter homenagens também. Aos que deveriam estar lá, com a gente.”
“Claro. Vocês adoram a oportunidade de fazer um drama.”
Debochou, porém com mau humor. Não havia graça nenhuma naquilo. Voltar para lá, pra quê? Tinha bastante certeza que os de sua casa não iriam. Muitos estavam mortos, e esses não receberiam homenagens. Morreram lutando pelo lord das trevas. Os que restavam sentiam vergonha demais de tudo que havia acontecido e a maioria tinha os pais presos em Askaban. Celebrar isso? Como ele, quase todos os de seu ano em sua casa só queriam esquecer o que houvera antes do fim da guerra e seguir em frente. Não havia o que comemorar. Se Voldemort fora derrotado, suas vidas foram despedaçadas com isso. E ainda havia muitos que desejavam que Potter não tivesse vencido. Draco não era um deles. Nunca quisera a maldita guerra. E ficara aliviado quando afinal terminou. Mas isso não significava que tinha o que comemorar daqueles tempos. A única pessoa que teria algo para recordar com ele e talvez até rir com ele, seria Pansy. Sinceramente preferia não lembrar de Potter em Hogwarts. Não. Ele nunca fora masoquista.
“Eu pensei que você iria...”
“E por que importa?”
Rebateu, imerso demais em pensamentos sombrios para se preocupar em manter o tato. Afinal não era açoitando sua presa que se conseguia conquistá-la. Mas não conseguia pensar nisso agora.
“Eu não sei.”
Respondeu Harry com sinceridade, e nos olhos verdes, Draco viu tanta confusão, alguma mistura de tristeza e até uma estranha saudade.
“Eu não sou quem você quer para se recordar de Hogwarts. Nossas lembranças não são exatamente felizes.”
“Algumas foram...”
O outro tentou começar, e havia ansiedade em sua expressão, mas o outro o cortou rapidamente.
“Não. Potter. Não foram.”
Ele não queria pensar naquilo. Sabia a que lembranças o outro se referia e não ia pensar nelas. Não havia nada de alegre ou pior, feliz, nelas. Era só mais dor e decepção de um tempo sombrio.
“Talvez eu vá, só para garantir que minha casa seja respeitada e representada. Se não é bem capaz de vocês griffinórios, lufa—lufas e corvinals transformarem a noite em uma noite de ataque a sonserina. Além disso, também seria interessante dar uma espiada na nova geração. Jovens cobras precisam de um incentivo e um modelo a aspirar. E que modelo de sucesso, melhor do que eu?”
Gabou-se, abrindo um sorriso prepotente e jogando para lá as malditas memórias daquelas semanas. Sim. Talvez fosse. Não ia deixar que a lembrança de sua casa, que fora a mais prejudicada, fosse transformada e reduzida à lembrança de comensais da morte. Os slytherins haviam sofrido mais do que quaisquer outros e mereciam o devido respeito à memória da casa. E os novos precisavam mesmo recordar o orgulho e o prazer de ser um slytherin, não importava o que a nova cultura politicamente correta e de horror aos de sua casa dizia. Um slytherin seria sempre um slytherin: superior. Estava na hora de eles serem lembrados disso.
“Você é mesmo um babaca... Mesmo assim espero que vá. Seria... Legal.” E ao olhar intrigado do loiro, Harry sorriu. “Sabe como é, se for uma chatice eu posso sempre levar Snuffles comigo e rir da sua cara quando eu mandar que ele pule em cima de você.”
“Muito maduro, Potter.”
Replicou o outro, revirando os olhos. Harry apenas sorriu, então olhou ao redor, um tanto constrangido e deu de ombros.
“Bem... Acho que eu te vejo domingo então.”
Murmurou se afastando um passo. Draco assentiu, indiferente.
“É... Domingo.”
Encararam-se por um momento, então o moreno acenou e se virou, correndo pelo caminho de volta pra casa com Snuffles do lado. Draco soltou o ar enquanto o assistia ir embora. As coisas tinham ido bem, mas não tanto quanto ele esperava... Mas aquela reunião... Talvez pudesse virá-la ao seu favor, talvez as coisas saíssem melhor do que esperava, afinal, ele ainda se lembrava de muitos dos caminhos de Hogwarts... Hum. Teria de pensar sobre isso. Talvez precisasse de alguma ajuda. Amanhã faria uma vistia a Pansy, pensou enquanto entrava no carro, para poder voltar para casa.

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Notas:
1 – Para quem não se lembra, Narcisa Malfoy era Narcisa Black antes de se casar, portanto prima de Sirius Black em primeiro grau, o que faz de Sirius primo em segundo grau de Draco.

2 - Ok, espero que todos tenham entendido isso, mas enfim, "I will survive" música notoriamente gay, bastante conhecida xD.

3 - Brunette = literalmente mulher jovem de cabelos castanho-escuros. Ou apenas, morena.

* Para quem não se lembra, Snuffles foi o apelido escolhido para Sirius, quando Harry precisava lhe mandar cartas sem que desconfiassem pra quem, o padrinho lhe escreveu dizendo que o chamasse se Sr. Snuffles. A semelhança física do cachorro com a forma animaga de Sirius juntamente com o nome que Harry escolheu foram o que deixaram Draco indignado.

** Almofadinhas. Ele brinca com as semelhanças, dando o apelido verdadeiro de Sirius para o cachorro.

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